OUTRAS VOZES FEMININAS
NA PARAÍBA
Marcelo Medeiros da Silva – UEPB –
Campus VI
INTRODUÇÃO
Em trabalho anterior
(cf. SILVA, 2013), detivemo-nos em elencar um rol de mulheres que fizeram da
literatura um exercício feminino em nosso estado, visto que até agora poucos
são os trabalhos que têm procurado investigar a contribuição femininas às
letras paraibanas. Nosso intuito era apontar os nomes das mulheres que
procuram, em solo paraibano, fazer da literatura um espaço para si, um local
para falar de si, de outras mulheres e dos eventos em seu entorno.
Interessava-nos, sobretudo, chegar aos nomes de nossas predecessoras, posição social que as mulheres-escritoras de tempos idos
tentaram ocupar, apesar do temor “de que por não pode(rem) criar, de que, por
não poder(em) tornar-se ela(s) própria(s) predecessora(s), o ato de escrever
a(s) isolasse ou a(s) destruísse (...)” (CAMPOS, 1992, p. 120).
Nesse
trabalho de natureza arqueológica, buscamos investigar, no
âmbito da literatura paraibana, se existiam menções à produção literária de
autoria feminina, o que o discurso historiográfico paraibano dizia acerca da
produção literária de mulheres, quais as autoras que estão canonizadas na
historiografia literária da Paraíba. Para sabermos se o discurso
historiográfico trazia em si um espaço para as vozes femininas paraibanas,
valemo-nos, primeiramente, de historiografias
literárias, depois, de dicionários de mulheres, coletâneas e antologias
literárias e, por fim, da internet como fontes de consulta. Eis o material que
nos serviu de corpus para aquele
primeiro trabalho e para o presente:
a)
Dicionário
Bibliográfico do Autor da Microrregião do Agreste da Borborema, publicado em 1982 e de
autoria da Professora Elizabeth Marinheiro;
b)
Dicionário
Crítico de Escritoras Brasileiras publicado no ano de 2002 em São Paulo pela
professora Nelly Novaes Coelho;
c)
Dicionário de
Mulheres,
de autoria de Hilda Agnes Hübner Flores, publicado em 1999;
d)
Dicionário
Mulheres do Brasil,
de Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil, publicado no ano de 2000;
e)
Antologia de
Escritoras Brasileiras do Século XIX que foram organizadas em três volumes
pela professora Zahidé Lupinacci Muzart e publicada pela Editora Mulheres;
f)
Ensaístas
Brasileiras, das
autoras Heloisa Buarque de Hollanda e Lucia Nascimento Araújo, publicado no ano
de 1993;
g)
Antologia
Contemporânea da Poesia Paraibana, organizada por Heriberto Coelho,
publicada em 1995;
h)
Dicionário
Literário da Paraíba,
organizado por Idelette Muzart Fonseca dos Santos;
i)
Coletânea
Autores Paraibanos – Poesia, de Ângela Bezerra de Castro, publicado no ano de
2005;
j)
Coletânea de
Autores Paraibanos – Prosa, de Ângela Bezerra de Castro, publicada no ano de
2005;
k)
Antologia Mulheres
que estão fazendo a nova Literatura Brasileira, organizada por
Luiz Ruffato, publicada no ano de 2005.
O
recurso a tal corpus objetivava
reunir o maior número de menção às mulheres paraibanas a fim de elencar, dentre
o rol de nomes apresentados, quais eram os de escritoras de naturalidade
paraibana, uma vez que, a priori, foi o local de nascimento a categoria
utilizada como critério para selecionar como paraibana esta ou aquela
escritora. No entanto, como essa opção metodológica poderia deixar de lado
alguns nomes expressivos, passamos a elencar as mulheres-escritoras que se
naturalizaram paraibanas ou que se radicaram na Paraíba ou que tiverem em nosso
estado as condições necessárias para a produção e a circulação de suas obras.
A análise de tal corpus nos levou a um número expressivo
de escritoras que nos legaram uma produção literária que engloba romances,
poesias, teatro, crônicas, livro de memórias dentre outros gêneros, o que
revela que a mulher-escritora-paraibana não foi produtora de um gênero só.
Todavia, o referido corpus nos
propiciou bem mais do que isso. Em nossa busca por nomes de mulheres que
fizeram da escrita uma prerrogativa também feminina, fomos nos deparando com
nomes de mulheres que se valeram da escrita ou como exercício literário, ou como
arma de denúncia não só da segregação por que passavam por serem mulheres, mas
também das injustiças sociais que acometiam homens e mulheres no nosso estado.
Considerando que a
atuação dessas mulheres na esfera pública é um elemento importante no processo
de pensar como o feminino agiu em espaços para além do lar, sobretudo na
Paraíba, é que o presente trabalho visa trazer aqui o nome delas a fim de que possam
sair do olvido público, lugar mais do que comum para as mulheres que se
insurgiram contra os ditames do mundo patriarcal e que não aceitaram como
valores femininos a subordinação social, o
guardar as palavras no fundo de si mesmas, o conformar-se, o obedecer, o submeter-se
e o calar-se (PERROT, 2005). Com isso, o presente trabalho, na esteira do que
já vimos desenvolvendo, pretende contribuir para os estudos de gênero e da Mulher,
notadamente os estudos sobre mulheres paraibanas, além de ser uma contribuição
à memória feminina do estado da Paraíba.
Da
casa para a rua: matizes femininos no espaço público paraibano
Quando pensando como
área de atuação do feminino e do masculino, o espaço público é marcado por uma
dissimetria que aloca homens e mulheres em lugares opostos, completamente
antípodas (PERROT, 1998). Se ao homem é dado o poder de desfrutar de todos os
meandros do espaço público, à mulher recai uma miríade de interdições, de
coerções a fim de evitar que ela transite por tal espaço. Se o homem público
desempenha um papel importante que lhe garante mais ou menos reconhecimento,
que lhe permite participar do poder, à mulher pública não se estende
reconhecimento algum, já que ela é vista como “depravada, debochada, lúbrica,
venal” e, consequentemente, passa a ser tida como uma criatura que “constitui a
vergonha, a parte escondida, dissimulada, noturna, um vil objeto, território de
passagem, apropriado, sem individualidade própria” (PERROT, 1998, p. 07).
Neste caso, sendo
sexuado, o espaço público, no que tange à participação feminina, sempre foi
problemático, como se, ao participar dele, a mulher estivesse transitando por
um lugar dentro do qual ela, inevitavelmente, estaria deslocada. Todavia, o
receio da presença de mulheres no espaço público é decorrente do medo de que
elas desestabilizassem o já estabelecido, perturbassem “a ordem natural das
coisas” e não mais quisessem cumprir com a “vocação” delas, isto é, se
insurgissem contra o seu destino de mulher e não mais visse a sua existência
atrelada ao cuidar da família e das prendas domésticas, com o que elas
realmente eram tidas como benéficas para a sociedade inteira (PERROT, 1998,
p.09).
Se a permissão dada às
mulheres para circular no espaço público estava ligada às suas funções mundanas
e domésticas, quando lemos a história de vida das mulheres cujos nomes elencamos
neste trabalho, percebemos que elas não corresponderam a essa concessão
vigiada. Romperam com o que se esperavam delas no espaço público, porque
lutaram em prol de direitos que não lhes eram outorgados, foram em busca de serem
reconhecidas como cidadãs ou denunciaram os desmandos a que eram submetidas ou
a violência que era cometida contra elas mesmas ou contra os mais humildes e necessitados.
As reivindicações e denúncias deram-se por meio da participação direta das
mulheres no espaço público, mediante mobilizações, protestos, ou por meio de
escritos que, gestados na intimidade do lar, ganharam o espaço público,
descortinando aspectos do mundo privado que revelavam ser ele não tão idílico
quando se pensava ou se quisera que ele fosse.
Baseando-se nos estudos
empreendidos por Ferreira (1999), Bernardo (2002) afirma que o espaço público pode
ser categorizado em três modalidades: o espaço comum (local de circulação
e de expressão), o espaço realmente público (esfera das discussões) e o
espaço político (local onde se efetivam as decisões). As duas primeiras
modalidades são aquelas por onde as mulheres brasileiras do início do século XX
mais transitaram, e a última a em que menos se fez notar vestígios de uma
presença feminina. Quando pensamos em tais subdivisões do espaço público a
partir dos nomes das mulheres que elencamos no presente trabalho, vamos
perceber que as que ousaram sair da casa para a rua não se apropriaram apenas do
espaço público, mas também da palavra pública, essa que, durante muito tempo,
lhes fora negada, como nos evidenciam vários estudos sobre as mulheres do
espaço público, como as jornalistas, as políticas, as escritoras, na esteira
dos quais o presente trabalho se insere. Para essas mulheres paraibanas, o
espaço público, antes de servir como local de exibição de elegância, luxo ou
prestígio, foi área de atuação na busca pela igualdade civil, instrução,
condição de assalariadas dentre outras demandas, como a denúncia contra a
violência em casa e no campo bem como a luta pelo fim de tais violências.
Dados os limites do
presente artigo, não temos como objetivo nos determos em um nome específico de
uma ou outra mulher pública. Interessa-nos, a partir do material que constituiu
o nosso corpus, identificar, de forma
sinóptica, quais as mulheres paraibanas que se valeram da palavra pública como
meio de divulgação dos anseios femininos em nosso estado e que, posteriormente,
poderão ser objeto de trabalhos futuros. O quadro abaixo apresenta, pois, os
nomes de nossas mulheres públicas mais proeminentes:
QUADRO
DE MULHERES PÚBLICAS PARAIBANAS
1. ADRIANA
DE OLIVEIRA LEDO
|
2. ALMIRA
OLIVEIRA DE SÁ FERREIRA
|
3.
ANA DE OLIVEIRA
|
4. ANA
LUZIA RODRIGUES
|
5. BRANCA
DIAS
|
6.
CARMEN FREIRE
|
7.
CONSTÂNCIA DIAS
|
8. COSMA TAVARES LEITÃO
|
9.
ELIANE DE LIRA LIMA
|
10.
ELISALVA (DE FÁTIMA)
MADRUGA (DANTAS)
|
11.
ELIZABETH TEIXEIRA
|
12.
ELIZABETH MARINHEIRO
|
13.
ESMERALDINA AGRA RAMOS
|
14. FLORIZA
TAVARES COELHO DE LEMOS
|
15.
FRANCISCA NEUMA FECHINE
BORGES
|
16.
GENILDA ALVES DE AZEREDO
RODRIGUES
|
17.
JOANINHA
|
18.
IZABEL CALDEIRA
|
19.
LEONOR PEREIRA MARINHO
|
20.LUÍZA ERUNDINA DE SOUZA
|
21.MARGARIDA MARIA ALVES
|
22.MARIA
DA PENHA NASCIMENTO SILVA
|
23.(MARIA
DA) SALETE CATÃO GRISE
|
24.MARIA
DULCE BARBOSA
|
25.
MARIA DO SOCORRO SILVA DE
ARAGÃO
|
26.
MARIA FLOR
|
27.
MARIA IGNEZ NOVAIS AYALA
|
28.
MARIA LÚCIA MELO DE ARAÚJO
|
29.
MARIA NILDA (DE MIRANDA)
PESSOA
|
30.
MARIA TOMÁSIA
|
31.
MARIA VILANI DE SOUSA
|
32.
MARLUCE OLIVEIRA RAPOSO
DANTAS
|
33.
NEIDE MEDEIROS (SANTOS)
|
34.
NELCINA MELO DE OLIVEIRA
DIAS
|
35.
ROSÁLIA MARIA RIBEIRO DE ARAGÃO
|
36.
ROSA VIRGÍNIA (SAEGER
GALVÃO) FARACO
|
37.
TELMA MARTINS BOUDOU
|
38.
VALÉRIA ANDRADE SOUTO-
MAIOR
|
39.
WANDA ELIZABETH FERREIRA
DE AZEVEDO FILHO
|
Antes de tecermos alguma consideração
sobre os nomes acima, devemos ressaltar que, embora o espaço público paraibano
possa contar com um número bem maior de mulheres públicas, número esse que,
certamente, excede o que apresentamos no quadro acima, os nomes elencados aqui
são apenas os que encontramos no material que consultamos e ao qual fizemos
menção na introdução do presente trabalho. Feita tal ressalva, percebemos que a
existência de tais nomes é uma prova cabal de que a esfera pública paraibana
foi e continua sendo um espaço de atuação feminina, conforme já havíamos
assinalado. Muitas das mulheres acima nasceram no limiar do século XX, época em
que a Paraíba, assim como várias cidades do Nordeste, passava por mudanças
bastante singulares que lhe alteraram de maneira significativa a vida política,
econômica e social. As considerações abaixo, embora aplicadas à cidade de
Recife, podem ser extensivas à Paraíba nos albores do século passado:
uma
época de efervescência, com a intensificação da urbanização, a industrialização
crescente, que provoca a transformação da economia, antes essencialmente
agrária (...). É a época de uma imprensa diária, da abertura de cursos para
moças, da migração das grandes famílias da aristocracia canavieira do campo
para a cidade, onde a casa-grande e a senzala se tornam o sobrado e o mocambo,
para lembrar Gilberto Freyre, bem como do aparecimento de uma classe média. É a
época em que se fragiliza a dicotomia espaço público e espaço privado, com a
possibilidade da interação entre um e outro, o que favorece a atuação das
mulheres fora do domínio do lar (FERREIRA, 1999, p. 127).
Muitas das mulheres acima continuam
em ação. Algumas delas exercem um papel de destaque no magistério superior com
uma produção intelectual de reconhecimento nacional, como é o caso das
professoras Maria Ignez Ayala, Elisalva Madruga, Genilda Azeredo, Maria do
Socorro Aragão, Elizabeth Marinheiro. Outras pagaram um preço muito alto pela
atuação política na esfera pública, como é o caso de Elizabeth Teixeira, esposa
de João Pedro Teixeira, líder das ligas camponesas que foi assassinado a mando
de latifundiários, assim como, anos depois, no dia 12 de agosto de 1983, seria
morta a líder sindical Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato dos trabalhadores Rurais de Alagoa
Grande, região canavieira do nosso estado, e incansável lutadora em prol dos
direitos sociais para o homem e a mulher do campo. Sua morte provocou várias
manifestações e revoltas entre os trabalhadores rurais e grupos de mulheres do
Brasil, assim como, anos antes, em 2 de abril de 1962, a morte de João Pedro
Teixeira provocara a revolta e a manifestação de muitos trabalhadores rurais
contra os desmandos dos grandes senhores de terra. Além disso, a morte do marido deu a Elizabeth Teixeira o motivo de
prosseguir com a luta dele:
Mas quando eu o
vi ali, estraçalhado de bala, eu olhei bem para ele e lhe disse:
- m – João
Pedro, a partir de hoje, eu marcharei na tua luta. Luta por terra, luta pelo
homem do campo, luta pela mulher do campo que sofre como eu já sofri e que
estou sofrendo agora. Tanto faz viver ou morrer. Eu estou disposta a enfrentar
o que vier. Se eu for morta, morro, os filhos ficam... mas eu te juro, João
Pedro, eu darei continuidade à tua luta! (BANDEIRA, MIELE e SILVEIRA, 2012,
p.89).
O preço que Elizabeth
Teixeira pagou para dar continuidade à luta do marido assassinado foi muito
alto. Se não pagou com a própria morte, como acontecera com o marido, ela o
pagou com a solidão, com o medo da morte iminente, com a separação dos filhos, com
a incompreensão da família que lhe negou o direito ao estudo, como ela recorda
em sua biografia ao fazer menção às palavras da própria mãe, uma mulher como
tantas outras marcadas pela dominação masculina: “Elizabeth teve tanta vontade
de estudar, até chorou quando tiramos ela da escola, mas eu nada pude fazer por
ela, porque palavra de mulher não vale, eu nada pude fazer” (BANDEIRA, MIELE e
SILVEIRA, 2012, p.28). Além disso, a família dela nunca aceitou o seu
casamento:
A
gente não teve outra solução senão fugir. João Pedro me pediu em casamento a
meu pai, mas meu pai não deu. Falou para mim que não fazia o casamento e estava
achando até que eu estava louca em querer casar com um homem que não tinha
condições, que era pobre e negro (BANDEIRA, MIELE e SILVEIRA, 2012, p.39).
Na figura de Elizabeth Teixeira, vemos
a imagem de muitas outras mulheres do povo que pagaram um alto preço por
transgredirem os códigos comportamentais de uma sociedade patriarcal e de uma
época marcada pela intolerância e que intentaram, no espaço público, uma luta
por um mundo mais justo marcado pela igualdade de direitos e pelo fim das
dificuldades mais prosaicas. Como afirma Oliveira (2002, p.11), “uma publicação
internacional sobre as grandes heroínas que ajudaram a construir a aventura
humana, na Terra, ficaria incompleta – e injusta – sem um capítulo dedicado a
Elizabeth Teixeira”. Esta traz em sua trajetória de vida as marcas que são
impingidas àqueles que, não fazendo parte das estruturas hegemônicas de poder,
intentaram migrar da margem para o centro, marcas essas que ficaram como
lembrança do preço que foi preciso pagar em prol de um ideal maior:
Eu
não tive o direito de criar os meus filhos, eu não tive o direito de envelhecer
ao lado do meu marido, eu vi um filho meu tirar a vida de outro. Para uma
mulher que passou tudo o que eu passei, ela já não tem mais o direito de sorrir.
Mas o ideal dentro de mim ainda é vivo, embora que o sofrimento não tenha
terminado, ele não termina nunca (BANDEIRA, MIELE e SILVEIRA, 2012, p.180).
Em resumo, apesar dos riscos que as
generalizações implicam, acreditamos que podemos aplicar às mulheres elencadas
no quadro anterior as seguintes palavras de Elizabeth Siqueira: “Não se podia penetrar
em um mundo de dominação masculina sem reassumi-lo para que fosse modificado. Era necessário deixar um pouco de lado os
alfinetes e os bordados que impregnavam a vida feminina e tentar tecer outros
rendados históricos em busca de certos ideais” (SIQUEIRA, 1995 apud BERNARDO, 2002, p. 03; itálicos
nossos). Ou seja, mesmo por detrás dos panos, as mulheres não deixaram de tecer
bordados cuja estampa mostra-nos o anseio e a busca feminina por novas formas
de ser e de existir em uma sociedade cujo ponto de referência era o masculino.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
O poeta Carlos Drummond
de Andrade, em um poema chamado “Memória”, afirma que “as coisas findas/muito
mais que lindas,/ essas ficarão”. Se tais coisas ficaram, se deixaram, para
lembrar outro poema do referido poeta, um resíduo, o fizeram porque nos significam.
Ora, os nomes das mulheres que aqui elencamos são exemplos dessas coisas findas
que ficam, são, em alguns casos, resíduos de uma presença feminina que teve de
lutar contra os ardis de uma sociedade de base falocêntrica para a qual a
mulher era incapaz de contribuir porque era “simplesmente” mulher. Tais nomes
são registros de uma memória da presença feminina na cena pública paraibana que
muitos quiseram apagar a fim de negar a importância da mulher na construção de
uma nova moral, de uma nova cultura, de uma sociedade destituída da
discriminação de gênero, do reconhecimento da igualdade de direitos e de acesso
em meio à diversidade cultural.
Sendo assim, o que
poderia ser apenas um elenco de nomes de mulheres, umas mais, outras menos,
conhecidas, afigura-se como importante registro da atu(ação) das mulheres na
Paraíba. Ao selecionamos os nomes, ao perscrutar as atividades desenvolvidas
por elas, vamo-nos deparando com um mosaico em que professoras, donas de casa,
líderes rurais, líderes políticas, ativistas políticas deixaram o registro de
como as mulheres paraibanas agiram em nosso Estado, agir esse que precisa ser
mais bem estudado por nossa universidade. Muitas das mulheres a cujo nome nós
chegamos, inclusive, não corroboraram com os velhos predicados de
subserviência, passividade, resignação que pairam, quase de forma atávica,
sobre o sexo feminino. Sirva-se de exemplo a figura de Elizabeth Teixeira, que
enfrentou o machismo, configurado na figura do pai, e rompeu com o padrão
familiar vigente, com as diferenças de gênero, raça e classe social.
Muitas dessas mulheres interferiram
nos rumos das ações políticas e sociais da Paraíba e até mesmo de outros
estados, desestabilizando relações fixas, tidas como imutáveis, como as
relações entre público e privado nas quais o primeiro era domínio dos homens e
o segundo espaço de encarceramento das mulheres. Transitando pela casa e pela
rua, essas mulheres falaram bem mais do que simplesmente do amor e das flores,
e o estudo de suas trajetórias de vida nos permite “chegar a novas conclusões
sobre a tradição das mulheres, saber mais sobre como as mulheres desde sempre
enfrentaram seus temores, desejos e fantasias e também as estratégias que
adotaram para se expressarem publicamente, apesar de seu confinamento ao pessoal
e ao privado” (WEIGEL apud MUZART,
2006, p.76).
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Artigo Publicado em: IV Seminário Nacional Gênero e Práticas Culturais: subjetividades e contradiscursos, 2013, João Pessoa. IV Seminário Nacional Gênero e Práticas Culturais: subjetividades e contradiscursos. João Pessoa: Editora da Universidade Federal da Paraíba, 2013.
Fonte da imagem: https://www.dorotheum.com/38N140217_138_51996_18/Bild/Circle-of-William-Adolphe-Bouguereau.jpg
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