domingo, 26 de março de 2017

OUTRAS VOZES FEMININAS NA PARAÍBA
Marcelo Medeiros da Silva – UEPB – Campus VI

INTRODUÇÃO

Em trabalho anterior (cf. SILVA, 2013), detivemo-nos em elencar um rol de mulheres que fizeram da literatura um exercício feminino em nosso estado, visto que até agora poucos são os trabalhos que têm procurado investigar a contribuição femininas às letras paraibanas. Nosso intuito era apontar os nomes das mulheres que procuram, em solo paraibano, fazer da literatura um espaço para si, um local para falar de si, de outras mulheres e dos eventos em seu entorno. Interessava-nos, sobretudo, chegar aos nomes de nossas predecessoras, posição social que as mulheres-escritoras de tempos idos tentaram ocupar, apesar do temor “de que por não pode(rem) criar, de que, por não poder(em) tornar-se ela(s) própria(s) predecessora(s), o ato de escrever a(s) isolasse ou a(s) destruísse (...)” (CAMPOS, 1992, p. 120).
Nesse trabalho de natureza arqueológica, buscamos investigar, no âmbito da literatura paraibana, se existiam menções à produção literária de autoria feminina, o que o discurso historiográfico paraibano dizia acerca da produção literária de mulheres, quais as autoras que estão canonizadas na historiografia literária da Paraíba. Para sabermos se o discurso historiográfico trazia em si um espaço para as vozes femininas paraibanas, valemo-nos, primeiramente, de historiografias literárias, depois, de dicionários de mulheres, coletâneas e antologias literárias e, por fim, da internet como fontes de consulta. Eis o material que nos serviu de corpus para aquele primeiro trabalho e para o presente:

a)     Dicionário Bibliográfico do Autor da Microrregião do Agreste da Borborema, publicado em 1982 e de autoria da Professora Elizabeth Marinheiro;
b)     Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras publicado no ano de 2002 em São Paulo pela professora Nelly Novaes Coelho;
c)     Dicionário de Mulheres, de autoria de Hilda Agnes Hübner Flores, publicado em 1999;
d)     Dicionário Mulheres do Brasil, de Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil, publicado no ano de 2000;
e)     Antologia de Escritoras Brasileiras do Século XIX que foram organizadas em três volumes pela professora Zahidé Lupinacci Muzart e publicada pela Editora Mulheres;
f)      Ensaístas Brasileiras, das autoras Heloisa Buarque de Hollanda e Lucia Nascimento Araújo, publicado no ano de 1993;
g)    Antologia Contemporânea da Poesia Paraibana, organizada por Heriberto Coelho, publicada em 1995;
h)    Dicionário Literário da Paraíba, organizado por Idelette Muzart Fonseca dos Santos;
i)      Coletânea Autores Paraibanos – Poesia, de Ângela Bezerra de Castro, publicado no ano de 2005;
j)      Coletânea de Autores Paraibanos – Prosa, de Ângela Bezerra de Castro, publicada no ano de 2005;
k)    Antologia Mulheres que estão fazendo a nova Literatura Brasileira, organizada por Luiz Ruffato, publicada no ano de 2005.

O recurso a tal corpus objetivava reunir o maior número de menção às mulheres paraibanas a fim de elencar, dentre o rol de nomes apresentados, quais eram os de escritoras de naturalidade paraibana, uma vez que, a priori, foi o local de nascimento a categoria utilizada como critério para selecionar como paraibana esta ou aquela escritora. No entanto, como essa opção metodológica poderia deixar de lado alguns nomes expressivos, passamos a elencar as mulheres-escritoras que se naturalizaram paraibanas ou que se radicaram na Paraíba ou que tiverem em nosso estado as condições necessárias para a produção e a circulação de suas obras.
A análise de tal corpus nos levou a um número expressivo de escritoras que nos legaram uma produção literária que engloba romances, poesias, teatro, crônicas, livro de memórias dentre outros gêneros, o que revela que a mulher-escritora-paraibana não foi produtora de um gênero só. Todavia, o referido corpus nos propiciou bem mais do que isso. Em nossa busca por nomes de mulheres que fizeram da escrita uma prerrogativa também feminina, fomos nos deparando com nomes de mulheres que se valeram da escrita ou como exercício literário, ou como arma de denúncia não só da segregação por que passavam por serem mulheres, mas também das injustiças sociais que acometiam homens e mulheres no nosso estado.
Considerando que a atuação dessas mulheres na esfera pública é um elemento importante no processo de pensar como o feminino agiu em espaços para além do lar, sobretudo na Paraíba, é que o presente trabalho visa trazer aqui o nome delas a fim de que possam sair do olvido público, lugar mais do que comum para as mulheres que se insurgiram contra os ditames do mundo patriarcal e que não aceitaram como valores femininos a subordinação social, o guardar as palavras no fundo de si mesmas, o conformar-se, o obedecer, o submeter-se e o calar-se (PERROT, 2005). Com isso, o presente trabalho, na esteira do que já vimos desenvolvendo, pretende contribuir para os estudos de gênero e da Mulher, notadamente os estudos sobre mulheres paraibanas, além de ser uma contribuição à memória feminina do estado da Paraíba.

Da casa para a rua: matizes femininos no espaço público paraibano
  

Quando pensando como área de atuação do feminino e do masculino, o espaço público é marcado por uma dissimetria que aloca homens e mulheres em lugares opostos, completamente antípodas (PERROT, 1998). Se ao homem é dado o poder de desfrutar de todos os meandros do espaço público, à mulher recai uma miríade de interdições, de coerções a fim de evitar que ela transite por tal espaço. Se o homem público desempenha um papel importante que lhe garante mais ou menos reconhecimento, que lhe permite participar do poder, à mulher pública não se estende reconhecimento algum, já que ela é vista como “depravada, debochada, lúbrica, venal” e, consequentemente, passa a ser tida como uma criatura que “constitui a vergonha, a parte escondida, dissimulada, noturna, um vil objeto, território de passagem, apropriado, sem individualidade própria” (PERROT, 1998, p. 07).
Neste caso, sendo sexuado, o espaço público, no que tange à participação feminina, sempre foi problemático, como se, ao participar dele, a mulher estivesse transitando por um lugar dentro do qual ela, inevitavelmente, estaria deslocada. Todavia, o receio da presença de mulheres no espaço público é decorrente do medo de que elas desestabilizassem o já estabelecido, perturbassem “a ordem natural das coisas” e não mais quisessem cumprir com a “vocação” delas, isto é, se insurgissem contra o seu destino de mulher e não mais visse a sua existência atrelada ao cuidar da família e das prendas domésticas, com o que elas realmente eram tidas como benéficas para a sociedade inteira (PERROT, 1998, p.09).
Se a permissão dada às mulheres para circular no espaço público estava ligada às suas funções mundanas e domésticas, quando lemos a história de vida das mulheres cujos nomes elencamos neste trabalho, percebemos que elas não corresponderam a essa concessão vigiada. Romperam com o que se esperavam delas no espaço público, porque lutaram em prol de direitos que não lhes eram outorgados, foram em busca de serem reconhecidas como cidadãs ou denunciaram os desmandos a que eram submetidas ou a violência que era cometida contra elas mesmas ou contra os mais humildes e necessitados. As reivindicações e denúncias deram-se por meio da participação direta das mulheres no espaço público, mediante mobilizações, protestos, ou por meio de escritos que, gestados na intimidade do lar, ganharam o espaço público, descortinando aspectos do mundo privado que revelavam ser ele não tão idílico quando se pensava ou se quisera que ele fosse.
Baseando-se nos estudos empreendidos por Ferreira (1999), Bernardo (2002) afirma que o espaço público pode ser categorizado em três modalidades: o espaço comum (local de circulação e de expressão), o espaço realmente público (esfera das discussões) e o espaço político (local onde se efetivam as decisões). As duas primeiras modalidades são aquelas por onde as mulheres brasileiras do início do século XX mais transitaram, e a última a em que menos se fez notar vestígios de uma presença feminina. Quando pensamos em tais subdivisões do espaço público a partir dos nomes das mulheres que elencamos no presente trabalho, vamos perceber que as que ousaram sair da casa para a rua não se apropriaram apenas do espaço público, mas também da palavra pública, essa que, durante muito tempo, lhes fora negada, como nos evidenciam vários estudos sobre as mulheres do espaço público, como as jornalistas, as políticas, as escritoras, na esteira dos quais o presente trabalho se insere. Para essas mulheres paraibanas, o espaço público, antes de servir como local de exibição de elegância, luxo ou prestígio, foi área de atuação na busca pela igualdade civil, instrução, condição de assalariadas dentre outras demandas, como a denúncia contra a violência em casa e no campo bem como a luta pelo fim de tais violências.
Dados os limites do presente artigo, não temos como objetivo nos determos em um nome específico de uma ou outra mulher pública. Interessa-nos, a partir do material que constituiu o nosso corpus, identificar, de forma sinóptica, quais as mulheres paraibanas que se valeram da palavra pública como meio de divulgação dos anseios femininos em nosso estado e que, posteriormente, poderão ser objeto de trabalhos futuros. O quadro abaixo apresenta, pois, os nomes de nossas mulheres públicas mais proeminentes:



QUADRO DE MULHERES PÚBLICAS PARAIBANAS




1.     ADRIANA DE OLIVEIRA LEDO
2.     ALMIRA OLIVEIRA DE SÁ FERREIRA
3.     ANA DE OLIVEIRA
4.     ANA LUZIA RODRIGUES
5.     BRANCA DIAS
6.     CARMEN FREIRE
7.     CONSTÂNCIA DIAS
8.      COSMA TAVARES LEITÃO
9.      ELIANE DE LIRA LIMA
10.   ELISALVA (DE FÁTIMA) MADRUGA (DANTAS)
11.   ELIZABETH TEIXEIRA
12.   ELIZABETH MARINHEIRO
13.   ESMERALDINA AGRA RAMOS
14.   FLORIZA TAVARES COELHO DE LEMOS
15.   FRANCISCA NEUMA FECHINE BORGES
16.   GENILDA ALVES DE AZEREDO RODRIGUES
17.   JOANINHA
18.   IZABEL CALDEIRA
19.   LEONOR PEREIRA MARINHO
20.LUÍZA ERUNDINA DE SOUZA
21.MARGARIDA MARIA ALVES
22.MARIA DA PENHA NASCIMENTO SILVA
23.(MARIA DA) SALETE CATÃO GRISE
24.MARIA DULCE BARBOSA
25.   MARIA DO SOCORRO SILVA DE ARAGÃO
26.   MARIA FLOR
27.   MARIA IGNEZ NOVAIS AYALA
28.   MARIA LÚCIA MELO DE ARAÚJO
29.   MARIA NILDA (DE MIRANDA) PESSOA
30.   MARIA TOMÁSIA
31.   MARIA VILANI DE SOUSA
32.   MARLUCE OLIVEIRA RAPOSO DANTAS
33.   NEIDE MEDEIROS (SANTOS)
34.   NELCINA MELO DE OLIVEIRA DIAS
35.   ROSÁLIA MARIA RIBEIRO DE ARAGÃO
36.   ROSA VIRGÍNIA (SAEGER GALVÃO) FARACO
37.   TELMA MARTINS BOUDOU
38.   VALÉRIA ANDRADE SOUTO- MAIOR
39.   WANDA ELIZABETH FERREIRA DE AZEVEDO FILHO




          Antes de tecermos alguma consideração sobre os nomes acima, devemos ressaltar que, embora o espaço público paraibano possa contar com um número bem maior de mulheres públicas, número esse que, certamente, excede o que apresentamos no quadro acima, os nomes elencados aqui são apenas os que encontramos no material que consultamos e ao qual fizemos menção na introdução do presente trabalho. Feita tal ressalva, percebemos que a existência de tais nomes é uma prova cabal de que a esfera pública paraibana foi e continua sendo um espaço de atuação feminina, conforme já havíamos assinalado. Muitas das mulheres acima nasceram no limiar do século XX, época em que a Paraíba, assim como várias cidades do Nordeste, passava por mudanças bastante singulares que lhe alteraram de maneira significativa a vida política, econômica e social. As considerações abaixo, embora aplicadas à cidade de Recife, podem ser extensivas à Paraíba nos albores do século passado:

uma época de efervescência, com a intensificação da urbanização, a industrialização crescente, que provoca a transformação da economia, antes essencialmente agrária (...). É a época de uma imprensa diária, da abertura de cursos para moças, da migração das grandes famílias da aristocracia canavieira do campo para a cidade, onde a casa-grande e a senzala se tornam o sobrado e o mocambo, para lembrar Gilberto Freyre, bem como do aparecimento de uma classe média. É a época em que se fragiliza a dicotomia espaço público e espaço privado, com a possibilidade da interação entre um e outro, o que favorece a atuação das mulheres fora do domínio do lar (FERREIRA, 1999, p. 127).  

            Muitas das mulheres acima continuam em ação. Algumas delas exercem um papel de destaque no magistério superior com uma produção intelectual de reconhecimento nacional, como é o caso das professoras Maria Ignez Ayala, Elisalva Madruga, Genilda Azeredo, Maria do Socorro Aragão, Elizabeth Marinheiro. Outras pagaram um preço muito alto pela atuação política na esfera pública, como é o caso de Elizabeth Teixeira, esposa de João Pedro Teixeira, líder das ligas camponesas que foi assassinado a mando de latifundiários, assim como, anos depois, no dia 12 de agosto de 1983, seria morta a líder sindical Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato dos trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, região canavieira do nosso estado, e incansável lutadora em prol dos direitos sociais para o homem e a mulher do campo. Sua morte provocou várias manifestações e revoltas entre os trabalhadores rurais e grupos de mulheres do Brasil, assim como, anos antes, em 2 de abril de 1962, a morte de João Pedro Teixeira provocara a revolta e a manifestação de muitos trabalhadores rurais contra os desmandos dos grandes senhores de terra. Além disso, a morte do marido deu a Elizabeth Teixeira o motivo de prosseguir com a luta dele:

Mas quando eu o vi ali, estraçalhado de bala, eu olhei bem para ele e lhe disse:
- m – João Pedro, a partir de hoje, eu marcharei na tua luta. Luta por terra, luta pelo homem do campo, luta pela mulher do campo que sofre como eu já sofri e que estou sofrendo agora. Tanto faz viver ou morrer. Eu estou disposta a enfrentar o que vier. Se eu for morta, morro, os filhos ficam... mas eu te juro, João Pedro, eu darei continuidade à tua luta! (BANDEIRA, MIELE e SILVEIRA, 2012, p.89).

O preço que Elizabeth Teixeira pagou para dar continuidade à luta do marido assassinado foi muito alto. Se não pagou com a própria morte, como acontecera com o marido, ela o pagou com a solidão, com o medo da morte iminente, com a separação dos filhos, com a incompreensão da família que lhe negou o direito ao estudo, como ela recorda em sua biografia ao fazer menção às palavras da própria mãe, uma mulher como tantas outras marcadas pela dominação masculina: “Elizabeth teve tanta vontade de estudar, até chorou quando tiramos ela da escola, mas eu nada pude fazer por ela, porque palavra de mulher não vale, eu nada pude fazer” (BANDEIRA, MIELE e SILVEIRA, 2012, p.28). Além disso, a família dela nunca aceitou o seu casamento:

A gente não teve outra solução senão fugir. João Pedro me pediu em casamento a meu pai, mas meu pai não deu. Falou para mim que não fazia o casamento e estava achando até que eu estava louca em querer casar com um homem que não tinha condições, que era pobre e negro (BANDEIRA, MIELE e SILVEIRA, 2012, p.39).

          Na figura de Elizabeth Teixeira, vemos a imagem de muitas outras mulheres do povo que pagaram um alto preço por transgredirem os códigos comportamentais de uma sociedade patriarcal e de uma época marcada pela intolerância e que intentaram, no espaço público, uma luta por um mundo mais justo marcado pela igualdade de direitos e pelo fim das dificuldades mais prosaicas. Como afirma Oliveira (2002, p.11), “uma publicação internacional sobre as grandes heroínas que ajudaram a construir a aventura humana, na Terra, ficaria incompleta – e injusta – sem um capítulo dedicado a Elizabeth Teixeira”. Esta traz em sua trajetória de vida as marcas que são impingidas àqueles que, não fazendo parte das estruturas hegemônicas de poder, intentaram migrar da margem para o centro, marcas essas que ficaram como lembrança do preço que foi preciso pagar em prol de um ideal maior:

Eu não tive o direito de criar os meus filhos, eu não tive o direito de envelhecer ao lado do meu marido, eu vi um filho meu tirar a vida de outro. Para uma mulher que passou tudo o que eu passei, ela já não tem mais o direito de sorrir. Mas o ideal dentro de mim ainda é vivo, embora que o sofrimento não tenha terminado, ele não termina nunca (BANDEIRA, MIELE e SILVEIRA, 2012, p.180).  

          Em resumo, apesar dos riscos que as generalizações implicam, acreditamos que podemos aplicar às mulheres elencadas no quadro anterior as seguintes palavras de Elizabeth Siqueira: Não se podia penetrar em um mundo de dominação masculina sem reassumi-lo para que fosse modificado. Era necessário deixar um pouco de lado os alfinetes e os bordados que impregnavam a vida feminina e tentar tecer outros rendados históricos em busca de certos ideais” (SIQUEIRA, 1995 apud BERNARDO, 2002, p. 03; itálicos nossos). Ou seja, mesmo por detrás dos panos, as mulheres não deixaram de tecer bordados cuja estampa mostra-nos o anseio e a busca feminina por novas formas de ser e de existir em uma sociedade cujo ponto de referência era o masculino.


CONSIDERAÇÕES FINAIS



O poeta Carlos Drummond de Andrade, em um poema chamado “Memória”, afirma que “as coisas findas/muito mais que lindas,/ essas ficarão”. Se tais coisas ficaram, se deixaram, para lembrar outro poema do referido poeta, um resíduo, o fizeram porque nos significam. Ora, os nomes das mulheres que aqui elencamos são exemplos dessas coisas findas que ficam, são, em alguns casos, resíduos de uma presença feminina que teve de lutar contra os ardis de uma sociedade de base falocêntrica para a qual a mulher era incapaz de contribuir porque era “simplesmente” mulher. Tais nomes são registros de uma memória da presença feminina na cena pública paraibana que muitos quiseram apagar a fim de negar a importância da mulher na construção de uma nova moral, de uma nova cultura, de uma sociedade destituída da discriminação de gênero, do reconhecimento da igualdade de direitos e de acesso em meio à diversidade cultural.
Sendo assim, o que poderia ser apenas um elenco de nomes de mulheres, umas mais, outras menos, conhecidas, afigura-se como importante registro da atu(ação) das mulheres na Paraíba. Ao selecionamos os nomes, ao perscrutar as atividades desenvolvidas por elas, vamo-nos deparando com um mosaico em que professoras, donas de casa, líderes rurais, líderes políticas, ativistas políticas deixaram o registro de como as mulheres paraibanas agiram em nosso Estado, agir esse que precisa ser mais bem estudado por nossa universidade. Muitas das mulheres a cujo nome nós chegamos, inclusive, não corroboraram com os velhos predicados de subserviência, passividade, resignação que pairam, quase de forma atávica, sobre o sexo feminino. Sirva-se de exemplo a figura de Elizabeth Teixeira, que enfrentou o machismo, configurado na figura do pai, e rompeu com o padrão familiar vigente, com as diferenças de gênero, raça e classe social.
Muitas dessas mulheres interferiram nos rumos das ações políticas e sociais da Paraíba e até mesmo de outros estados, desestabilizando relações fixas, tidas como imutáveis, como as relações entre público e privado nas quais o primeiro era domínio dos homens e o segundo espaço de encarceramento das mulheres. Transitando pela casa e pela rua, essas mulheres falaram bem mais do que simplesmente do amor e das flores, e o estudo de suas trajetórias de vida nos permite “chegar a novas conclusões sobre a tradição das mulheres, saber mais sobre como as mulheres desde sempre enfrentaram seus temores, desejos e fantasias e também as estratégias que adotaram para se expressarem publicamente, apesar de seu confinamento ao pessoal e ao privado” (WEIGEL apud MUZART, 2006, p.76).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BERNARDO, Ana Maria Sales Coutinho. Literatura e memória: resgate das escritoras paraibanas do início do século XX. IN: XVII Encontro Nacional da ANPOLL. Anais do XVII Encontro Nacional da ANPOLL. Gramado: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2002, v.1, p.1-4.
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 Artigo Publicado em:  IV Seminário Nacional Gênero e Práticas Culturais: subjetividades e contradiscursos, 2013, João Pessoa. IV Seminário Nacional Gênero e Práticas Culturais: subjetividades e contradiscursos. João Pessoa: Editora da Universidade Federal da Paraíba, 2013.
Fonte da imagem:  https://www.dorotheum.com/38N140217_138_51996_18/Bild/Circle-of-William-Adolphe-Bouguereau.jpg

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