CAROLINA NABUCO:
NOTAS BIOBLIOGRÁFICAS
Marcelo
Medeiros da Silva
Universidade
Estadual da Paraíba – Campus VI
Neste trabalho, vamos
delinear alguns aspectos concernentes à vida e à obra daquela que constitui o
escopo destas notas biobliográficas: Maria Carolina Nabuco de Araújo. Nascida
no dia 09 de fevereiro de 1890 e falecida em 17 de agosto de 1981, ela era
filha de D. Evelina Torres Ribeiro Nabuco e de Joaquim Aurélio Nabuco de
Araújo, escritor e deputado do Império, além de ter se consagrado como
romancista, memorialista, biógrafa e mulher de grande cultura e como possuidora
de um estilo simples e erudito, rico e profundo em conteúdo (SCHUMAHER e
BRAZIL, 2000). Carolina Nabuco atuou, inicialmente, em jornais para os quais
escrevia narrativas curtas. Algumas delas eram crônicas que tinham o título
genérico de Opiniões de Eva e foram
enviadas, “com certa regularidade, pelo correio, anonimamente, ao vespertino A Notícia, folha dirigida por Oliveira
Rocha” (LACERDA, 2003, p. 126). Apesar da importância desses primeiros escritos
para a sua formação como escritora, Carolina Nabuco afirmava, embora
participasse de concursos literários, não pensar em ganhar destaque, revelando,
de certa forma, um comportamento ambíguo que marcou as nossas primeiras mulheres-escritoras
que se valiam da modéstia, às vezes exacerbadamente, na hora em que traziam a
lume algum escrito. Mesmo diante dos insucessos de início, Carolina Nabuco
alimentava o desejo de se tornar escritora, este que era, conforme afirma em Oito décadas, a sua mais cara ambição
desde menina. Embora reconhecesse que ainda lhe faltavam “experiência e técnica
para fazer coisa prestável”, ela, atendendo a uma necessidade de cunho
vocacional, continuava, na busca pela experiência e pelo aprimoramento da técnica,
escrevendo.
A sua estreia no campo
das Letras deu-se com o lançamento de uma biografia: A vida de Joaquim Nabuco (1929). Esta, considerada pela própria
autora como sendo o seu livro, lhe consumiu oito longos anos de intenso labor. Bem
recebida pela crítica, A vida de Joaquim
Nabuco foi traduzida em 1944 para o espanhol, depois publicada em Buenos
Aires, e para o inglês pelo professor Ronald Hilton da Universidade de
Stanford. A boa recepção da crítica à biografia de Joaquim Nabuco fez, conforme
afirmam Schumaher e Brazil (2000), com que o poeta Alberto de Oliveira
liderasse um movimento para que Carolina Nabuco fosse eleita para a Academia
Brasileira de Letras. No entanto, a escritora, “considerando que a academia,
nos termos do estatuto, era reservada apenas a escritores, não aceitou o
convite formalizado pelo poeta” (SCHUMAHER e BRAZIL, 2000, p. 141). Após o
lançamento, em 1929, de A vida de Joaquim
Nabuco, que foi, à época, um êxito, pois foram vendidos, em duas edições,
mais de quatro mil exemplares, vieram somar a essa “pobre bagagem literária”,
palavras de Carolina Nabuco, outros livros que não biografias: A sucessora (1934) e Chama e cinzas (1947). Sobre a gênese do
primeiro, que foi lançado em 1934 pela Companhia Editora Nacional e alcançou,
no Brasil, quatro reedições até 1953, além de ter sido, segundo Lacerda (2003),
editado em Portugal, traduzido, em 1956, para o espanhol e, com o título de Il ritratto di Alice Steen, para o
italiano, Carolina Nabuco afirmou que, inicialmente, ele foi planejado para ser
um conto que se chamaria “O retrato da primeira esposa”, mas, aos poucos, foi
crescendo até se tornar um romance intitulado de A sucessora, cujo enredo,
à época, parecia, segundo a própria autora, genuíno. De acordo com Nabuco
(2000b), apesar da boa recepção da crítica que tecera alguns artigos elogiosos,
A sucessora só alcançou “boa venda
alguns anos mais tarde e por um motivo incidental”: sua semelhança com o
romance mais falado na época – Rebecca, da escritora inglesa Daphne du
Maurier. Este livro alcançou um sucesso mundial, quase sem precedentes, e
serviu como inspiração para um filme magistral: Rebecca, de Alfred Hitchcock. O
livro de Carolina Nabuco, por sua vez, se não alcançou as telas do cinema, chegou
à televisão. A sucessora, anos mais
tarde, ganhou uma versão para a TV, em uma telenovela da rede Globo. Exibida entre outubro de 1978 e março de 1979
e contando com um elenco de atores e atrizes dos mais prestigiados, a novela,
cujo título era homônimo ao da obra de Carolina Nabuco, trouxe para o horário
das 18h00min o clima psicológico enigmático e de suspense ao estilo de Alfred
Hitchcock, sendo reprisada entre 1980 e 1981(FERNANDES, 1994).
Após a publicação de A sucessora, Carolina Nabuco lançou mais um romance: Chama e Cinzas (1947). Este, além de lhe
valer um segundo prêmio concedido pela Academia Brasileira de Letras, também
foi para as telas da Rede Globo. Conforme Fernandes (1994), de 7 de setembro de
1987 a 26 de março de 1988, era exibida, no horário das 18h00min, a novela Bambolê, cuja trama, baseada em Chama e Cinzas, não seguia à risca o
enredo do romance sobre o qual Carolina Nabuco chegou a afirmar que foi o mais
difícil de ser escrito, porque faltava a ela substância: “Fui reunindo
fragmentos de diálogos e títulos de capítulos, mas essas notas não passavam de
lascas espalhadas. Lutava com uma grande falta de detalhes” (NABUCO, 2000, p.
142).
Chama
e Cinzas aborda o ideal de feminilidade que dessexualiza a
mulher e valoriza a associação romântica do feminino com a esfera do lar. Assim
como o primeiro romance de Carolina Nabuco, este segundo traz uma representação
simbólica da mulher como esposa-mãe-dona-de-casa, valorizando como qualidades
femininas a beleza e a submissão ao marido. Por outro lado, percebemos, em Chama e Cinzas, o registro de práticas
de uma sociabilidade mais íntima, isto é, uma valorização do interior
doméstico, tanto que é na intimidade do lar que as decisões sobre questões do
espaço público são debatidas e firmadas. Tematizando o cotidiano doméstico de
mulheres presas à esfera perfumada do lar, Chama
e Cinzas não pode ser visto apenas como um romance que faz apologia à
ideologia do patriarcalismo. Isso seria fruto de uma leitura que se mostra
apressada ou que estaria exigindo de sua autora certo engajamento político. Sem
romper necessariamente com a sociedade em que fora formada, Carolina Nabuco, a
nosso ver, neste romance, bem mais do que no primeiro, mostra que as lides
domésticas atuaram, em alguns casos, como forte elemento que inibiu as mulheres
de perceberem o quão perniciosa era a opressão que sofriam e que, devotadas aos
afazeres do lar e aos cuidados com o marido e com os filhos, elas eram
incapazes de perceber a identidade de anjo ou rainha do lar que lhes havia sido
imposta. Em uma história em que se valorizam os laços familiares, Carolina
Nabuco, no revés que se avizinha nas páginas de Chama e Cinzas, estava
mostrando como a casa e o cuidado com a família impediam as mulheres de
descobrirem a “condição feminina” desobrigadas de qualquer trabalho produtivo. Chama
e Cinzas representa, portanto, a esfera privada não só como uma espécie de
exílio, socialmente aceito, para as mulheres; mas, sobretudo, como um lugar de
aprendizagem não apenas das prendas domésticas; mas, principalmente, do
despertar da consciência de si mesmas. Chegar a tomar ciência da opressão
feminina ante a dominação masculina poderá ter, para algumas mulheres, assim
como foi para Nica, personagem principal de Chama
e Cinzas, um gosto amargo, de cinzas. Neste caso, sem romper com as
estruturas ideológicas da sociedade em que vivia, Carolina Nabuco estava
denunciando a condição da mulher, um ser oprimido por uma sociedade cujos
parâmetros são ditados e guiados pelo olhar, pela voz e pelos desejos masculinos.
Simultaneamente à
composição do segundo romance, Carolina Nabuco escreveu um livro de instrução
religiosa, Catecismo historiado –
doutrina cristã para primeira comunhão (1940), e mais duas biografias: A
vida de Virgílio de Melo Franco (1962)
e Santa Catarina de Sena (1957).
Estes dois últimos livros “nasceram de uma resolução súbita de minha parte,
resultante, em ambos os casos, de uma emoção que me pôs logo a pena à mão,
deixando por algum tempo o romance em que eu trabalhava” (NABUCO, 2000b, p.
270). Enquanto escrevia as biografias de
Virgílio de Mello Franco e de Santa Catarina de Sena, Carolina Nabuco, não
abandonando inteiramente a ficção, escreveu uma história e outra que foram
reunidas no livro O ladrão de
guarda-chuva e dez contos[1]
(1969). Apesar de escrever contos cujo enredo gira em torno de situações
triviais, o que faz com que as histórias sejam “equivocadamente” vistas como
água-com-açúcar, escrevê-los se revelou uma importante atividade para o
exercício literário de Carolina Nabuco. A produção de narrativas curtas foi
imprescindível para que ela mantivesse não só o desejo de se tornar escritora,
mas, sobretudo, para que fosse se exercitando na arte de contar histórias. Por
outro lado, ainda que a produção de histórias curtas não tenha sido responsável
pala projeção literária de Carolina Nabuco, a escrita de pequenas peças
narrativas teve, a nosso ver, outra importância que não pode ser deixada de
lado: preparar a inserção de Carolina Nabuco no universo da escrita. Escrever
contos ou crônicas era, portanto, uma forma de ir, paulatinamente, se
familiarizando no universo da produção literária ficcional que era um
território predominantemente masculino. Outro aspecto perceptível na contística
de Carolina Nabuco é que as histórias aparentemente triviais mostram, em um ou
em outro conto (cf. “O quadro da exposição” ou “O passado não se apaga”), a
posição marginal a que eram impelidas as mulheres, as quais sofriam com os
estigmas criados por uma sociedade machista cuja referência sempre fora o
masculino.
Outro livro escrito por
Carolina Nabuco foi Visão dos Estados
Unidos (1953). Reunindo um conjunto de crônicas sobre os Estados Unidos,
Carolina Nabuco apresenta-nos impressões sobre o país onde ela viveu quando
jovem e onde seu pai, Joaquim Nabuco, e, posteriormente, seu irmão Maurício
Nabuco foram embaixadores. Conforme explicado na orelha do referido livro,
Carolina Nabuco começa falando das relações entre os Estados Unidos e as outras
nações americanas. Em seguida, em uma espécie de quadro sobre as plagas
norte-americanas, ela fala da “polidez do americano que a autora vê
‘capitalizada’”; dos “aspectos pitorescos da visita anual a Washington feita
por milhares de pessoas, para as quais ‘conhecer’ o país é um dever de todos os
cidadãos”; do “interesse especial despertado pelas embaixadas de países
estrangeiros, inclusive o Brasil”, das “impressões sobre a sede (...) das
Nações Unidas (...)”; das “curiosidades da vida literária, destacando-se a
influência dos best-sellers”; da
“estranha instituição dos mortuários, verdadeiras casas de campo, onde os
defuntos permanecem alguns dias (...)”. Além de registrar as impressões sobre
Middle-West, “zona mais característica da mentalidade e do gênero de vida do
norte-americano”, sobre Wilde-West e sobre Williamsburg, Carolina Nabuco
estuda, em quatro capítulos, a situação da mulher americana às voltas com as
lides domésticas e com as reuniões de clubes ou associações de cunho
filantrópico. Neste pequeno volume, escrito “em uma prosa leve, pontilhado de poesia”,
Carolina Nabuco deixa-nos um “expressivo e sincero retrato dos Estados Unidos”,
o qual será tomado como pano de fundo de outro livro: Retrato dos Estados Unidos à luz de sua Literatura (1967). Este
livro, pertencente ao gênero crítica literária, reúne, segundo a sua autora,
textos sobre autores americanos, apontando o que existe de mais típico ou mais
genuíno nos autores estadunidenses. Retrato
dos Estados Unidos à luz de sua literatura revela-se, a nosso ver,
interessante porque é um dos poucos exemplares de livros de crítica literária
escritos por uma mulher. Com exceção de Lúcia Vera Miguel-Pereira (1903-1959),
único nome que nos vem à memória, neste momento, no Brasil, entre as mulheres
de tempos pretéritos, parece existirem poucos nomes femininos nas incursões
pela crítica literária de tempos idos. Felizmente, hoje já contamos com algumas
renomadas críticas. Se o exercício da escrita literária e o seu consequente
reconhecimento foram uma via crucis
para as mulheres, os meandros da crítica literária também parecem ter sido um
território selvagem ao qual demoraram a chegar as tintas femininas.
Acrescentemos que, se carecemos de uma memória e de uma tradição femininas em
nossa literatura, carentes somos também de uma tradição e de uma memória femininas
no âmbito da crítica literária.
Além de ficção,
biografia e crítica literária, ainda integram o acervo de Carolina Nabuco dois
outros livros: Oito décadas (1973) e Meu livro de cozinha (1977). Este último
apresenta algumas imagens dos hábitos alimentares brasileiros no início do
século XX e, por isso, pode ser visto como uma obra sociológica que evoca
lembranças pessoais da autora e na qual vêm à tona imagens de jantares, almoços
e banquetes de que participaram a autora, seus familiares e amigos. Meu Livro de Cozinha (1977) pode ser
visto, portanto, como um registro desta prática elementar, humilde, obstinada,
repetida no tempo e no espaço, que é a arte de cozinhar. A obra, como está escrito
em sua orelha, é mais do que a reunião de receitas de pratos raros, quitutes e
petiscos. Ele é “um verdadeiro ensaio sob a forma ligeira de conselhos e
opiniões de uma longa experiência sobre o que se poderia chamar ‘a arte de bem
receber em sua casa”. Reunindo velhas receitas esquecidas, o livro não só
“ensina a preparar os mais sofisticados e internacionais menus”, sem que eles
percam, no entanto, pelos condimentos, temperos e outros segredos, a marca
brasileira; mas também ensina como preparar o arranjo da mesa e seus
ornamentos, “tudo fazendo parte afinal das misteriosas e sutis combinações da
arte de viver – o que é muito mais questão de qualidade do que de quantidade”. Meu livro de cozinha consegue fazer com
que saber (do latim sapore) e sabor
(do latim sapere “ter gosto”),
palavras ligadas pelo mesmo étimo, passem a constituir, a um só tempo, entrada
e prato principal. Com Meu Livro de Cozinha, Carolina Nabuco evoca a
tradição literária feminina oitocentista a que se filiam muitas de nossas
escritoras oitocentistas, algumas das quais dedicaram boa parte de seus
escritos à literatura didática, voltada para a educação das mulheres burguesas.
Oito
décadas (1973), livro de memórias, espécie de testamento
literário, reúne, por sua vez, as reminiscências de Carolina Nabuco ao longo de
oito décadas, uma a menos do que ela própria viveu. Embora procure rememorar
tão longo período de sua vida, Carolina Nabuco o faz, segundo Lacerda (2003),
sem recorrer ao tom nostálgico e saudosista que marca a produção memorialística
de outras autoras. Compromissada com a reconstrução das oito décadas, Carolina
Nabuco toma como ponto de partida a década de 1890-1900, período em que
aconteceram fatos muito importantes na política brasileira. Mais do que a
simples reunião de velhas memórias, Oito
décadas é um testemunho de uma época, trazendo a lume, à luz da memória,
fatos concernentes aos “costumes, [à] evolução da política brasileira e [a]
personalidades que marcaram um período decisivo na história da humanidade:
Einstein, Duchamp e a arte abstrata, [aos] avanços na medicina, [à] Segunda
Guerra Mundial e muitos outros (SCHUMAHER e BRAZIL, 2000, p. 142).
Embora
constitua o seu testamento literário, ou talvez por causa disso mesmo, Oito décadas não traz, conforme nota
Lacerda (2003), registro de experiências pessoais, não faz menção, por exemplo,
à convivência de Carolina Nabuco com os irmãos, à temporada dela no colégio ou
à existência de possíveis namoros. Uma vez passadas as etapas da infância e da
mocidade, “assume lugar a escritora adulta e a voz da memorialista, com quase
oitenta anos de idade, disposta a rememorar e a reapresentar cenários do
passado em tinta e papel” (LACERDA, 2003, p. 128).
Na realização do sonho
de se tornar uma mulher das letras, em um contexto onde a escrita era uma
prerrogativa masculina, Carolina Nabuco teve a sorte, o que não aconteceu com
outras escritoras, suas contemporâneas, de nascer em uma família na qual os
dotes artísticos da escritora puderam ser valorizados sem que o exercício da
escrita fosse visto como uma atividade subversiva e sem mérito. Devemos
registrar que a presença do pai, sob cuja sombra Carolina Nabuco viveu durante
muito tempo, talvez, até mesmo, por toda a vida, foi extremamente importante. Ela
teve na figura paterna a fonte de inspiração não só para escrever como,
principalmente, para despertar-lhe o desejo de ser escritora. Conforme está
registrado em seu livro de memórias, embora o desejo dela pela escrita fosse
algo latente, a sua mais cara ambição de menina, foi vendo o pai lendo e
escrevendo que esse desejo aflorou na pequena Carolina. Lembremos que, apesar
de já ter incursionado pela escrita escrevendo contos e crônicas, Carolina
Nabuco só veio a obter sucesso e recepção da crítica quando escreveu uma
biografia, justamente, sobre seu pai, Joaquim Nabuco. A despeito de escrever
essa obra ter sido o preenchimento de uma lacuna há muito existente em nossas
letras, tê-la escrito deve ter sido uma estratégia para penetrar no tão
hermético mundo das letras. Ainda que possamos estar errados, é usando Joaquim
Nabuco que Carolina Nabuco, sob a insígnia dele, atrai para si os olhares do
público e da crítica. Tanto que ela se tornou mais conhecida como biógrafa do
pai do que como a romancista de A sucessora
(1934) e de Chama e Cinzas (1947),
além de outras biografias que, parece, não lograram tanto sucesso quanto a
primeira. Por essa linha de raciocínio, se não tivesse escrito outros livros, e
mesmo os tendo escrito, como, de fato, o fez, Carolina Nabuco teria entrado
para a memória de nossas letras como escritora de um livro só: A vida de Joaquim Nabuco, o que, no
entanto, não a impediu de cair no esquecimento. A biografia que Nabuco escreveu
sobre o pai parece ter sido bem recebida não por causa das qualidades
literárias de quem a escreveu nem das qualidades estéticas da própria obra, que
trazia algumas inovações, à época, para o gênero biográfico; mas, sim, em
virtude da relevância, em nossa história, de seu personagem: Joaquim Nabuco.
Reconhecida, em sua
época, como escritora de valor, Carolina Nabuco foi agraciada com prêmios e com
o reconhecimento do público e da crítica. Apesar das críticas negativas à
produção de muitas escritoras oitocentistas, ela parece ter constituído uma das
exceções, já que a sua obra foi bem recebida pelos seus pares e por seus
leitores. Como exemplo da aceitação tanto do público quanto da crítica, citemos
o fato de Carolina Nabuco ter sido indicada, através de moção elaborada por
Alberto de Oliveira, para uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Todavia, a
própria escritora recusou a indicação em respeito aos estatutos da casa que não
faziam referências ao ingresso de mulheres em tão nobre instituição. Parece que
Carolina Nabuco estava deixando claro saber que, naquela sociedade em que
nascera e em que assistira a muitas transformações, havia ainda lugares onde as
mulheres não podiam entrar, pois muitos eram os bedéis a lhes barrarem o
ingresso. Por fim, gostaríamos de reiterar que Carolina Nabuco, ao lado de
muitas outras escritoras oitocentistas, deve ser vista como integrante de um
rol de escritoras a quem devemos reconhecer como pioneiras no campo das letras,
principalmente porque elas nasceram em uma sociedade que passava por mudanças socioculturais
bastante acentuadas, especialmente no que tange à condição feminina. Enfim,
mulheres que ainda estão a esperar que suas obras saiam do olvido público e
voltem a circular ou circulem pela primeira vez, oferecendo-nos novas perguntas
e reformulando velhos pressupostos capazes de mudar certos paradigmas que ainda
dão sustentação à cultura de nosso país.
BIBLIOGRAFIA
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SCHUMAHER, Schuma e BRAZIL, Érico Vital. Dicionário de mulheres do Brasil de 1500 até a atualidade. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.
Artigo Publicado em: Aline Alves Arrda; Ana Caroline Barreto Neves; Constância Lima Duarte; Kelen Benfenatti Paiva; Maria do Rosário Alves Pereira.. (Org.). A escrita no feminino: aproximações. Florianópolis: Editora Mulheres, 2011, v. , p. 41-50.
[1]
Embora a capa deste livro registre como título “O ladrão de guarda-chuva e dez
contos”, na folha de rosto do referido livro, o título sofre uma pequena
alteração, sendo denominado de “O ladrão de guarda-chuva e dez outras
histórias”.
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