domingo, 26 de março de 2017

CAROLINA NABUCO: NOTAS BIOBLIOGRÁFICAS

Marcelo Medeiros da Silva
Universidade Estadual da Paraíba – Campus VI



Neste trabalho, vamos delinear alguns aspectos concernentes à vida e à obra daquela que constitui o escopo destas notas biobliográficas: Maria Carolina Nabuco de Araújo. Nascida no dia 09 de fevereiro de 1890 e falecida em 17 de agosto de 1981, ela era filha de D. Evelina Torres Ribeiro Nabuco e de Joaquim Aurélio Nabuco de Araújo, escritor e deputado do Império, além de ter se consagrado como romancista, memorialista, biógrafa e mulher de grande cultura e como possuidora de um estilo simples e erudito, rico e profundo em conteúdo (SCHUMAHER e BRAZIL, 2000). Carolina Nabuco atuou, inicialmente, em jornais para os quais escrevia narrativas curtas. Algumas delas eram crônicas que tinham o título genérico de Opiniões de Eva e foram enviadas, “com certa regularidade, pelo correio, anonimamente, ao vespertino A Notícia, folha dirigida por Oliveira Rocha” (LACERDA, 2003, p. 126). Apesar da importância desses primeiros escritos para a sua formação como escritora, Carolina Nabuco afirmava, embora participasse de concursos literários, não pensar em ganhar destaque, revelando, de certa forma, um comportamento ambíguo que marcou as nossas primeiras mulheres-escritoras que se valiam da modéstia, às vezes exacerbadamente, na hora em que traziam a lume algum escrito. Mesmo diante dos insucessos de início, Carolina Nabuco alimentava o desejo de se tornar escritora, este que era, conforme afirma em Oito décadas, a sua mais cara ambição desde menina. Embora reconhecesse que ainda lhe faltavam “experiência e técnica para fazer coisa prestável”, ela, atendendo a uma necessidade de cunho vocacional, continuava, na busca pela experiência e pelo aprimoramento da técnica, escrevendo.
A sua estreia no campo das Letras deu-se com o lançamento de uma biografia: A vida de Joaquim Nabuco (1929). Esta, considerada pela própria autora como sendo o seu livro, lhe consumiu oito longos anos de intenso labor. Bem recebida pela crítica, A vida de Joaquim Nabuco foi traduzida em 1944 para o espanhol, depois publicada em Buenos Aires, e para o inglês pelo professor Ronald Hilton da Universidade de Stanford. A boa recepção da crítica à biografia de Joaquim Nabuco fez, conforme afirmam Schumaher e Brazil (2000), com que o poeta Alberto de Oliveira liderasse um movimento para que Carolina Nabuco fosse eleita para a Academia Brasileira de Letras. No entanto, a escritora, “considerando que a academia, nos termos do estatuto, era reservada apenas a escritores, não aceitou o convite formalizado pelo poeta” (SCHUMAHER e BRAZIL, 2000, p. 141). Após o lançamento, em 1929, de A vida de Joaquim Nabuco, que foi, à época, um êxito, pois foram vendidos, em duas edições, mais de quatro mil exemplares, vieram somar a essa “pobre bagagem literária”, palavras de Carolina Nabuco, outros livros que não biografias: A sucessora (1934) e Chama e cinzas (1947). Sobre a gênese do primeiro, que foi lançado em 1934 pela Companhia Editora Nacional e alcançou, no Brasil, quatro reedições até 1953, além de ter sido, segundo Lacerda (2003), editado em Portugal, traduzido, em 1956, para o espanhol e, com o título de Il ritratto di Alice Steen, para o italiano, Carolina Nabuco afirmou que, inicialmente, ele foi planejado para ser um conto que se chamaria “O retrato da primeira esposa”, mas, aos poucos, foi crescendo até se tornar um romance intitulado de A sucessora, cujo enredo, à época, parecia, segundo a própria autora, genuíno. De acordo com Nabuco (2000b), apesar da boa recepção da crítica que tecera alguns artigos elogiosos, A sucessora só alcançou “boa venda alguns anos mais tarde e por um motivo incidental”: sua semelhança com o romance mais falado na época – Rebecca, da escritora inglesa Daphne du Maurier. Este livro alcançou um sucesso mundial, quase sem precedentes, e serviu como inspiração para um filme magistral: Rebecca, de Alfred Hitchcock. O livro de Carolina Nabuco, por sua vez, se não alcançou as telas do cinema, chegou à televisão. A sucessora, anos mais tarde, ganhou uma versão para a TV, em uma telenovela da rede Globo.  Exibida entre outubro de 1978 e março de 1979 e contando com um elenco de atores e atrizes dos mais prestigiados, a novela, cujo título era homônimo ao da obra de Carolina Nabuco, trouxe para o horário das 18h00min o clima psicológico enigmático e de suspense ao estilo de Alfred Hitchcock, sendo reprisada entre 1980 e 1981(FERNANDES, 1994).
 Após a publicação de A sucessora, Carolina Nabuco lançou mais um romance: Chama e Cinzas (1947). Este, além de lhe valer um segundo prêmio concedido pela Academia Brasileira de Letras, também foi para as telas da Rede Globo. Conforme Fernandes (1994), de 7 de setembro de 1987 a 26 de março de 1988, era exibida, no horário das 18h00min, a novela Bambolê, cuja trama, baseada em Chama e Cinzas, não seguia à risca o enredo do romance sobre o qual Carolina Nabuco chegou a afirmar que foi o mais difícil de ser escrito, porque faltava a ela substância: “Fui reunindo fragmentos de diálogos e títulos de capítulos, mas essas notas não passavam de lascas espalhadas. Lutava com uma grande falta de detalhes” (NABUCO, 2000, p. 142).
Chama e Cinzas aborda o ideal de feminilidade que dessexualiza a mulher e valoriza a associação romântica do feminino com a esfera do lar. Assim como o primeiro romance de Carolina Nabuco, este segundo traz uma representação simbólica da mulher como esposa-mãe-dona-de-casa, valorizando como qualidades femininas a beleza e a submissão ao marido. Por outro lado, percebemos, em Chama e Cinzas, o registro de práticas de uma sociabilidade mais íntima, isto é, uma valorização do interior doméstico, tanto que é na intimidade do lar que as decisões sobre questões do espaço público são debatidas e firmadas. Tematizando o cotidiano doméstico de mulheres presas à esfera perfumada do lar, Chama e Cinzas não pode ser visto apenas como um romance que faz apologia à ideologia do patriarcalismo. Isso seria fruto de uma leitura que se mostra apressada ou que estaria exigindo de sua autora certo engajamento político. Sem romper necessariamente com a sociedade em que fora formada, Carolina Nabuco, a nosso ver, neste romance, bem mais do que no primeiro, mostra que as lides domésticas atuaram, em alguns casos, como forte elemento que inibiu as mulheres de perceberem o quão perniciosa era a opressão que sofriam e que, devotadas aos afazeres do lar e aos cuidados com o marido e com os filhos, elas eram incapazes de perceber a identidade de anjo ou rainha do lar que lhes havia sido imposta. Em uma história em que se valorizam os laços familiares, Carolina Nabuco, no revés que se avizinha nas páginas de Chama e Cinzas, estava mostrando como a casa e o cuidado com a família impediam as mulheres de descobrirem a “condição feminina” desobrigadas de qualquer trabalho produtivo. Chama e Cinzas representa, portanto, a esfera privada não só como uma espécie de exílio, socialmente aceito, para as mulheres; mas, sobretudo, como um lugar de aprendizagem não apenas das prendas domésticas; mas, principalmente, do despertar da consciência de si mesmas. Chegar a tomar ciência da opressão feminina ante a dominação masculina poderá ter, para algumas mulheres, assim como foi para Nica, personagem principal de Chama e Cinzas, um gosto amargo, de cinzas. Neste caso, sem romper com as estruturas ideológicas da sociedade em que vivia, Carolina Nabuco estava denunciando a condição da mulher, um ser oprimido por uma sociedade cujos parâmetros são ditados e guiados pelo olhar, pela voz e pelos desejos masculinos.  
Simultaneamente à composição do segundo romance, Carolina Nabuco escreveu um livro de instrução religiosa, Catecismo historiado – doutrina cristã para primeira comunhão (1940), e mais duas biografias: A vida de Virgílio de Melo Franco (1962) e Santa Catarina de Sena (1957). Estes dois últimos livros “nasceram de uma resolução súbita de minha parte, resultante, em ambos os casos, de uma emoção que me pôs logo a pena à mão, deixando por algum tempo o romance em que eu trabalhava” (NABUCO, 2000b, p. 270).  Enquanto escrevia as biografias de Virgílio de Mello Franco e de Santa Catarina de Sena, Carolina Nabuco, não abandonando inteiramente a ficção, escreveu uma história e outra que foram reunidas no livro O ladrão de guarda-chuva e dez contos[1] (1969). Apesar de escrever contos cujo enredo gira em torno de situações triviais, o que faz com que as histórias sejam “equivocadamente” vistas como água-com-açúcar, escrevê-los se revelou uma importante atividade para o exercício literário de Carolina Nabuco. A produção de narrativas curtas foi imprescindível para que ela mantivesse não só o desejo de se tornar escritora, mas, sobretudo, para que fosse se exercitando na arte de contar histórias. Por outro lado, ainda que a produção de histórias curtas não tenha sido responsável pala projeção literária de Carolina Nabuco, a escrita de pequenas peças narrativas teve, a nosso ver, outra importância que não pode ser deixada de lado: preparar a inserção de Carolina Nabuco no universo da escrita. Escrever contos ou crônicas era, portanto, uma forma de ir, paulatinamente, se familiarizando no universo da produção literária ficcional que era um território predominantemente masculino. Outro aspecto perceptível na contística de Carolina Nabuco é que as histórias aparentemente triviais mostram, em um ou em outro conto (cf. “O quadro da exposição” ou “O passado não se apaga”), a posição marginal a que eram impelidas as mulheres, as quais sofriam com os estigmas criados por uma sociedade machista cuja referência sempre fora o masculino.
Outro livro escrito por Carolina Nabuco foi Visão dos Estados Unidos (1953). Reunindo um conjunto de crônicas sobre os Estados Unidos, Carolina Nabuco apresenta-nos impressões sobre o país onde ela viveu quando jovem e onde seu pai, Joaquim Nabuco, e, posteriormente, seu irmão Maurício Nabuco foram embaixadores. Conforme explicado na orelha do referido livro, Carolina Nabuco começa falando das relações entre os Estados Unidos e as outras nações americanas. Em seguida, em uma espécie de quadro sobre as plagas norte-americanas, ela fala da “polidez do americano que a autora vê ‘capitalizada’”; dos “aspectos pitorescos da visita anual a Washington feita por milhares de pessoas, para as quais ‘conhecer’ o país é um dever de todos os cidadãos”; do “interesse especial despertado pelas embaixadas de países estrangeiros, inclusive o Brasil”, das “impressões sobre a sede (...) das Nações Unidas (...)”; das “curiosidades da vida literária, destacando-se a influência dos best-sellers”; da “estranha instituição dos mortuários, verdadeiras casas de campo, onde os defuntos permanecem alguns dias (...)”. Além de registrar as impressões sobre Middle-West, “zona mais característica da mentalidade e do gênero de vida do norte-americano”, sobre Wilde-West e sobre Williamsburg, Carolina Nabuco estuda, em quatro capítulos, a situação da mulher americana às voltas com as lides domésticas e com as reuniões de clubes ou associações de cunho filantrópico. Neste pequeno volume, escrito “em uma prosa leve, pontilhado de poesia”, Carolina Nabuco deixa-nos um “expressivo e sincero retrato dos Estados Unidos”, o qual será tomado como pano de fundo de outro livro: Retrato dos Estados Unidos à luz de sua Literatura (1967). Este livro, pertencente ao gênero crítica literária, reúne, segundo a sua autora, textos sobre autores americanos, apontando o que existe de mais típico ou mais genuíno nos autores estadunidenses. Retrato dos Estados Unidos à luz de sua literatura revela-se, a nosso ver, interessante porque é um dos poucos exemplares de livros de crítica literária escritos por uma mulher. Com exceção de Lúcia Vera Miguel-Pereira (1903-1959), único nome que nos vem à memória, neste momento, no Brasil, entre as mulheres de tempos pretéritos, parece existirem poucos nomes femininos nas incursões pela crítica literária de tempos idos. Felizmente, hoje já contamos com algumas renomadas críticas. Se o exercício da escrita literária e o seu consequente reconhecimento foram uma via crucis para as mulheres, os meandros da crítica literária também parecem ter sido um território selvagem ao qual demoraram a chegar as tintas femininas. Acrescentemos que, se carecemos de uma memória e de uma tradição femininas em nossa literatura, carentes somos também de uma tradição e de uma memória femininas no âmbito da crítica literária.    
Além de ficção, biografia e crítica literária, ainda integram o acervo de Carolina Nabuco dois outros livros: Oito décadas (1973) e Meu livro de cozinha (1977). Este último apresenta algumas imagens dos hábitos alimentares brasileiros no início do século XX e, por isso, pode ser visto como uma obra sociológica que evoca lembranças pessoais da autora e na qual vêm à tona imagens de jantares, almoços e banquetes de que participaram a autora, seus familiares e amigos. Meu Livro de Cozinha (1977) pode ser visto, portanto, como um registro desta prática elementar, humilde, obstinada, repetida no tempo e no espaço, que é a arte de cozinhar. A obra, como está escrito em sua orelha, é mais do que a reunião de receitas de pratos raros, quitutes e petiscos. Ele é “um verdadeiro ensaio sob a forma ligeira de conselhos e opiniões de uma longa experiência sobre o que se poderia chamar ‘a arte de bem receber em sua casa”. Reunindo velhas receitas esquecidas, o livro não só “ensina a preparar os mais sofisticados e internacionais menus”, sem que eles percam, no entanto, pelos condimentos, temperos e outros segredos, a marca brasileira; mas também ensina como preparar o arranjo da mesa e seus ornamentos, “tudo fazendo parte afinal das misteriosas e sutis combinações da arte de viver – o que é muito mais questão de qualidade do que de quantidade”. Meu livro de cozinha consegue fazer com que saber (do latim sapore) e sabor (do latim sapere “ter gosto”), palavras ligadas pelo mesmo étimo, passem a constituir, a um só tempo, entrada e prato principal. Com Meu Livro de Cozinha, Carolina Nabuco evoca a tradição literária feminina oitocentista a que se filiam muitas de nossas escritoras oitocentistas, algumas das quais dedicaram boa parte de seus escritos à literatura didática, voltada para a educação das mulheres burguesas.
Oito décadas (1973), livro de memórias, espécie de testamento literário, reúne, por sua vez, as reminiscências de Carolina Nabuco ao longo de oito décadas, uma a menos do que ela própria viveu. Embora procure rememorar tão longo período de sua vida, Carolina Nabuco o faz, segundo Lacerda (2003), sem recorrer ao tom nostálgico e saudosista que marca a produção memorialística de outras autoras. Compromissada com a reconstrução das oito décadas, Carolina Nabuco toma como ponto de partida a década de 1890-1900, período em que aconteceram fatos muito importantes na política brasileira. Mais do que a simples reunião de velhas memórias, Oito décadas é um testemunho de uma época, trazendo a lume, à luz da memória, fatos concernentes aos “costumes, [à] evolução da política brasileira e [a] personalidades que marcaram um período decisivo na história da humanidade: Einstein, Duchamp e a arte abstrata, [aos] avanços na medicina, [à] Segunda Guerra Mundial e muitos outros (SCHUMAHER e BRAZIL, 2000, p. 142). Embora constitua o seu testamento literário, ou talvez por causa disso mesmo, Oito décadas não traz, conforme nota Lacerda (2003), registro de experiências pessoais, não faz menção, por exemplo, à convivência de Carolina Nabuco com os irmãos, à temporada dela no colégio ou à existência de possíveis namoros. Uma vez passadas as etapas da infância e da mocidade, “assume lugar a escritora adulta e a voz da memorialista, com quase oitenta anos de idade, disposta a rememorar e a reapresentar cenários do passado em tinta e papel” (LACERDA, 2003, p. 128).
Na realização do sonho de se tornar uma mulher das letras, em um contexto onde a escrita era uma prerrogativa masculina, Carolina Nabuco teve a sorte, o que não aconteceu com outras escritoras, suas contemporâneas, de nascer em uma família na qual os dotes artísticos da escritora puderam ser valorizados sem que o exercício da escrita fosse visto como uma atividade subversiva e sem mérito. Devemos registrar que a presença do pai, sob cuja sombra Carolina Nabuco viveu durante muito tempo, talvez, até mesmo, por toda a vida, foi extremamente importante. Ela teve na figura paterna a fonte de inspiração não só para escrever como, principalmente, para despertar-lhe o desejo de ser escritora. Conforme está registrado em seu livro de memórias, embora o desejo dela pela escrita fosse algo latente, a sua mais cara ambição de menina, foi vendo o pai lendo e escrevendo que esse desejo aflorou na pequena Carolina. Lembremos que, apesar de já ter incursionado pela escrita escrevendo contos e crônicas, Carolina Nabuco só veio a obter sucesso e recepção da crítica quando escreveu uma biografia, justamente, sobre seu pai, Joaquim Nabuco. A despeito de escrever essa obra ter sido o preenchimento de uma lacuna há muito existente em nossas letras, tê-la escrito deve ter sido uma estratégia para penetrar no tão hermético mundo das letras. Ainda que possamos estar errados, é usando Joaquim Nabuco que Carolina Nabuco, sob a insígnia dele, atrai para si os olhares do público e da crítica. Tanto que ela se tornou mais conhecida como biógrafa do pai do que como a romancista de A sucessora (1934) e de Chama e Cinzas (1947), além de outras biografias que, parece, não lograram tanto sucesso quanto a primeira. Por essa linha de raciocínio, se não tivesse escrito outros livros, e mesmo os tendo escrito, como, de fato, o fez, Carolina Nabuco teria entrado para a memória de nossas letras como escritora de um livro só: A vida de Joaquim Nabuco, o que, no entanto, não a impediu de cair no esquecimento. A biografia que Nabuco escreveu sobre o pai parece ter sido bem recebida não por causa das qualidades literárias de quem a escreveu nem das qualidades estéticas da própria obra, que trazia algumas inovações, à época, para o gênero biográfico; mas, sim, em virtude da relevância, em nossa história, de seu personagem: Joaquim Nabuco.
Reconhecida, em sua época, como escritora de valor, Carolina Nabuco foi agraciada com prêmios e com o reconhecimento do público e da crítica. Apesar das críticas negativas à produção de muitas escritoras oitocentistas, ela parece ter constituído uma das exceções, já que a sua obra foi bem recebida pelos seus pares e por seus leitores. Como exemplo da aceitação tanto do público quanto da crítica, citemos o fato de Carolina Nabuco ter sido indicada, através de moção elaborada por Alberto de Oliveira, para uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Todavia, a própria escritora recusou a indicação em respeito aos estatutos da casa que não faziam referências ao ingresso de mulheres em tão nobre instituição. Parece que Carolina Nabuco estava deixando claro saber que, naquela sociedade em que nascera e em que assistira a muitas transformações, havia ainda lugares onde as mulheres não podiam entrar, pois muitos eram os bedéis a lhes barrarem o ingresso. Por fim, gostaríamos de reiterar que Carolina Nabuco, ao lado de muitas outras escritoras oitocentistas, deve ser vista como integrante de um rol de escritoras a quem devemos reconhecer como pioneiras no campo das letras, principalmente porque elas nasceram em uma sociedade que passava por mudanças socioculturais bastante acentuadas, especialmente no que tange à condição feminina. Enfim, mulheres que ainda estão a esperar que suas obras saiam do olvido público e voltem a circular ou circulem pela primeira vez, oferecendo-nos novas perguntas e reformulando velhos pressupostos capazes de mudar certos paradigmas que ainda dão sustentação à cultura de nosso país.


BIBLIOGRAFIA

FERNANDES, Ismael. Memória da telenovela brasileira. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
KOTHE, Flavio René. O cânone colonial. Brasília: UNB, 1997.
LACERDA, Lilian de. Álbum de leitura: memórias de vida, histórias de leitoras. São Paulo: UNESP, 2003.
NABUCO, Carolina. A vida de Joaquim Nabuco.  São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1929.
______. Conferências sobre Nabuco. Recife: Imprensa Oficial, 1936.
______. A sucessora. 1. ed. 1934. Rio de Janeiro: José Olympio, 1940.
______. Visão dos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Agir, 1953.
______. Santa Catarina de Sena – sua ação e seu ambiente. Rio de Janeiro: José Olympio, 1957a. (Documentos Brasileiros; v.92).
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______. A vida de Virgílio de Melo Franco. Rio de Janeiro: José Olympio, 1962. (Documentos Brasileiros; 111).
______. Joaquim Nabuco. 3. ed. São Paulo: Editora Melhoramentos, 1967. (Série Grandes Brasileiros).
______. O ladrão de guarda-chuvas e dez outras histórias. São Paulo: Gráfica Record Editora, 1969.
______. Chama e cinzas. 1. ed. 1947. Rio de Janeiro: Record, 1979.
______. Retrato dos Estados Unidos à luz de sua literatura. 1. ed. 1967. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000a.
______. Oito décadas – memórias. 1.ed. 1973. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000b.
______. Meu livro de cozinha. 1. ed. 1977. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
SCHUMAHER, Schuma e BRAZIL, Érico Vital. Dicionário de mulheres do Brasil de 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.

Artigo Publicado em: Aline Alves Arrda; Ana Caroline Barreto Neves; Constância Lima Duarte; Kelen Benfenatti Paiva; Maria do Rosário Alves Pereira.. (Org.). A escrita no feminino: aproximações. Florianópolis: Editora Mulheres, 2011, v. , p. 41-50.



[1] Embora a capa deste livro registre como título “O ladrão de guarda-chuva e dez contos”, na folha de rosto do referido livro, o título sofre uma pequena alteração, sendo denominado de “O ladrão de guarda-chuva e dez outras histórias”. 

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